quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Leitura de textos

A importância de leitura de textos


Selma de Assis Moura
selmamoura@usp.br

São objetivos da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmos e com a sociedade, capazes de intervir modificando a realidade, auto motivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, o que passa pela formação de leitores competentes.
É fato sabido que várias gerações têm demonstrado não apenas o desinteresse pela leitura, mas também a incapacidade de fazê-la coerentemente, compreendendo um texto em profundidade, o que inegavelmente limita o indivíduo em suas possibilidades de acesso ao conhecimento culturalmente construído.
Portanto, é tarefa urgente dos pais e da escola, em todos os níveis, buscar maneiras de estimular, mais do que a capacidade de ler, o prazer pela leitura. Apenas propiciando aos sujeitos leitores o prazer da leitura poderemos construir as competências necessárias para sua apreensão e produção.
Pensadores como Paulo Freire apontam para o reconhecimento de que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura da palavra escrita implica na ampliação da possibilidade de leitura do mundo. Assim, concluímos que o não desenvolvimento de bons leitores limita as possibilidades de leitura do mundo, da compreensão da realidade social e da intervenção do sujeito buscando a transformação da sociedade.
No intuito de desenvolver, desde a mais tenra idade, o hábito e o prazer da leitura, desde a educação infantil devemos oferecer oportunidades de leituras variadas, leitura não apenas de textos escritos, mas a própria leitura e interpretação do mundo em que a criança está inserida e do qual faz parte como ator social.
O acesso a diferentes tipos de texto, mesmo bem antes da alfabetização, permitirá desenvolver tais capacidades, alem de apresentar à criança elementos constitutivos do texto: vocabulário, estrutura, enredo, coerência interna, elenco de personagens e, além disso, o uso social da escrita, elementos esses que serão fundamentais no processo de alfabetização. Isso porque constatamos que “as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha” (MEC/SEF, 1998, vol.3, p. 123).

Fonte:

selmamoura@usp.br selmamoura@usp.br

Comentários de Lucilene

O leitor quando levado a ter acesso os mais diversos tipos de textos mesmo antes de ser alfabetizado permite um leque de conhecimento bem mais elevado, além das habilidades adquiridas na convivência com meio, que, de tal forma são conhecimentos que vem sendo construídos durante o processo de aprendizagem.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Alfabetização não precede o letramento

Como Alfabetizar Letrando?

Por: Judite Filgueiras Rodrigues

Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas, construindo suas práticas a partir do que está sendo discutido no meio acadêmico e transposto para a sala de aula a partir de suas reinterpretações e do que é possível e pertinente ser feito.

Essas mudanças nas práticas de
ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico.

Hoje o desafio maior é “Como alfabetizar letrando”?

A palavra letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa Literacy “condição de ser letrado”.

Assim, letramento é o estado ou a condição de quem responde adequadamente às demandas sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita.

De acordo com Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza essencialmente diferente, porém, são interdependentes e indissociáveis, pois uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada ou ser letrada e não ser alfabetizada.

Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser vistos como simultâneos, entendendo que no conceito de alfabetização estaria compreendido o de letramento e vice-versa.

Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem grafofônica e que em letramento inclui-se a aprendizagem do sistema de escrita. A conveniência da existência dos dois termos, que embora designem processos interdependentes, indissociáveis e simultâneos, são processos de natureza diferente, uma vez que envolve habilidades e competências específicas, implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em conseqüência, métodos e procedimentos diferenciados de ensino.

Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material, a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da fala sonora para a forma gráfica da escrita implica numa importante revisão dos procedimentos e métodos para o ensino, uma vez que cada fase desse processo exige procedimentos e métodos diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças
necessitam de formas diferenciadas na ação pedagógica.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed.Cortez. 2001.

MORAIS A. & Leite T. Como promover o desenvolvimento das habilidades de reflexão fonológica dos alfabetizandos. MEC :UFPE/ CEEL 2005.

SOARES, Magda.Letramento e escolarização. São Paulo: Global, 2003.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Comentários de Lucilene

Percebe-se uma preocupação por parte teóricas e metodológicas da leitura e escrita, pois grande tem sido as desafios da participação da escola com fonte do conhecimento e de transformação do indivíduo a nova realidade do processo ensino e aprendizagem.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Ciência da leitura

“Quem lê constrói sua própria ciência” (João Álvaro Ruiz)

A leitura tem importância fundamental na vida das pessoas. A necessidade de muita leitura está posto entre todos, haja vista, que propicia a obtenção de informações em relação a qualquer contexto e área do conhecimento, assim como, pode constituir-se em fonte de entretenimento. Para uns, atividade prazerosa, para outros, um desafio a conquistar. Urge compreender que a técnica da leitura garante um estudo eficiente, quando aplicada qualitativamente.
O que é ler? Qual a importância da leitura? Quais procedimentos práticos para uma leitura eficiente? Questões óbvias, que pela sua evidência pouco são problematizadas.

Etimologicamente, ler deriva do latim “lego/legere”, que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão, enfatizamos a leitura da palavra escrita. No entanto, entendemos, com Luckesi (2003, p. 119) que “[...] a leitura, para atender o seu pleno sentido e significado, deve, intencionalmente, referir-se à realidade. Caso contrário, ela será um processo mecânico de decodificação de símbolos”. Logo, todo o ser humano é capaz de ler e lê efetivamente. Destarte, tanto lê o conhecedor dos signos lingüísticos/gramaticais, quanto o camponês, “não letrado”, que, observando a natureza, prevê o sol ou a chuva.

É mister, primeiramente, frisar que a leitura é mutíssimo importante, pois “[...] amplia e integra conhecimentos [...], abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência [...]” (RUIZ, 2002, p. 35).
Investigações atestam que o sucesso nas carreiras e atividades na atualidade, relacionam-se, estreitamente, com a hábito da leitura proveitosa, pois além de aprofundar estudos, possibilita a aquisição dos conhecimentos produzidos e sistematizados historicamente pela humanidade.

O objetivo maior ao proceder à leitura de uma determinada obra consiste em “[...] aprender, entender e reter o que está lendo.” (MAGRO, 1979, p. 09). Por conseguinte, inquestionavelmente, a leitura é uma prática que requer aprendizagem para tal e, sem sombra de dúvida, uma atividade ainda pouco desenvolvida. Neste particular, Salomon (2004, p. 54) enfatiza que “a leitura não é simplesmente o ato de ler. É uma questão de hábito ou aprendizagem [...]”. Além do incentivo e à promoção de espaços permanentes de leitura é preciso criar o prazer para este ofício.

O deleite advindo da leitura não se conquista num passe de mágica, espontaneamente. Requer opção, atitudes coerentes e pertinentes ao objetivo proposto. Dmitruk (2001, p. 41) afirma, convictamente, que “[...] não importa tanto o quanto se lê, mas como se lê. A leitura requer atenção, intenção, reflexão, espírito crítico, análise e síntese; o que possibilita desenvolver a capacidade de pensar.”

Indubitavelmente, é preciso saber ler, ler muito e ler bem. Considerando apropriações de estudos realizados com o intuito em aperfeiçoar o hábito de leitura, elencamos alguns aspectos e/ou habilidades que julgamos pertinentes, nesta perspectiva:

- Ler com objetivo determinado, isto é ter uma finalidade. Saber por que se está lendo;
- Ler unidades de pensamento e não palavras por palavras. Relacionar idéias; - Ajustar a velocidade (ritmo) da leitura ao assunto, tema e/ou texto que está lendo:
- Avaliar o que se está lendo, perguntando pelo sentido, identificando a idéia central e seus fundamentos;
- Aprimorar o vocabulário esclarecendo termos e palavras “novas”.
O dicionário é um recurso significativo. No entanto, palavras-chave, analisadas no contexto do próprio assunto em que são usadas, facilita a compreensão;
- Adotar habilidades para conhecer o livro, isto é, indagar pelo que trata determinada obra;
- Saber quando é conveniente ou não interromper uma leitura, bem como quando retomá-la;
- Discutir com colegas o que lê, centrando-se no valor objetivo do texto, visto que “o diálogo é a condição necessária para a indagação, para a intercomunicação, para a troca de saberes [...]” (ECCO, 2004, p. 80).
- Adquirir livros que são fundamentais (clássicos), zelando por uma biblioteca particular, assim como, freqüentar espaços e ambientes que contenham acervo literário, por exemplo, bibliotecas;
10º - Ler assuntos vários. Não estar condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto;
11º - Ler muito e sempre que possível; 12º - Considerar a leitura como uma atividade de vida, não desenvolvendo resistências ao hábito de ler.

As orientações supracitadas terão efeitos promissores, se observadas efetivamente, na prática, do contrário, não passam de mero palavreado. A leitura eficiente, depende de método. No entanto, incontestavelmente, o método está na dependência de quem o aplica. Não bastam somente boas intenções. São necessárias ações congruentes aos desígnios.

É fundamental compreender que, na formação de cada cidadão bem como de um povo, a leitura é de máxima importância, representando um papel essencial, pois revela-se como uma das vias no processo de construção do conhecimento, como fonte de informação e formação cultural. Ademais, “ler é benéfico à saúde mental, pois é uma atividade Neuróbica. A atividade da leitura faz reforçar as conexões entre os neurônios. Para a mente, ainda não inventaram melhor exercício do que ler atentamente e refletir sobre o texto.” (WIKIPÉDIA, 2006, p. 01).

O ato de ler é um exercício de indagação, de reflexão crítica, de entendimento, de captação de símbolos e sinais, de mensagens, de conteúdo, de informações... É um exercício de intercâmbio, uma vez que possibilita relações intelectuais e potencializa outras. Permite-nos a formação dos nossos próprios conceitos, explicações e entendimentos sobre realidades, elementos e/ou fenômenos com os quais defrontamo-nos.



Idanir Ecco,

Mestre em Educação - UPF/RS. Professor e pesquisador da URI-Campus de Erechim.
Endereço eletrônico: idanir@uri.com.br

Comentários de Lucilene.

A leitura é a fonte certa para todo indivíduo, é preciso que ele tenha como objetivo principal para formar sua estrutura intelectual, dando prioridade para que a mesma, seja um processo contínuo na construção do saber.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Alfabetização e suas complexidade no mundo atual

A complexidade das demandas brasileiras e as dificuldades de transposição do conhecimento teórico para as práticas

Em geral, os pesquisadores, diante da complexidade da demanda brasileira, vêem-se obrigados a elaborar sínteses teóricas entre diversos autores e até mesmo entre diversas ciências, porque percebem os grandes problemas que a redução do foco da relação educativa a um aspecto ocasiona. As indagações abaixo representam boa parte das inquietações de um pesquisador ou mesmo de um educador diante da complexidade que o ensino da leitura e da escrita põe para cada educador:

Foi precisamente a necessidade de analisar o contexto, de pensar a alfabetização (ou o desenvolvimento/ensino/aquisição da escrita) em termos de interação e interlocução, que fui evidenciando ao longo destes anos de trabalho – para situar essa tarefa pedagógica no seu âmbito técnico, prático, mas sobretudo teórico e político. Embutida nessa necessidade, a procura do que era relevante e significativo. Ou seja, na diversidade dos métodos, na diferença das práticas, na dispersão dos interesses, na atribuição de valores, na contingente das situações e momentos, o que importa realmente? Pode-se assegurar ou determinar isso? (Smolka, 2003 p. 29)

Nota-se que a autora se vê diante de uma diversidade de elementos que vai desde a nomenclatura, que já denuncia possibilidades de diálogos com diversas tendências, a um campo complexo de se definir e de se 'assegurar'.

Já os defensores do método fônico aplainam o campo, eliminam as diferenças, reduzem o campo do ensino da leitura à escolarização e a um conjunto de técnicas.

Ao analisar as tendências brasileiras, fixam-se apenas num confronto entre métodos em vez de analisar a complexidade que algumas linhas atingiram, sobretudo nas últimas décadas. Mesmo as influências das perspectivas ideovisuais e as da leitura significativa (Goodman, Smith, Foucambert), as dos construtivistas (Piaget, Emília Ferreiro), as dos sociointeracionistas (Vygostsky, Lúria) e as de Paulo Freire não se deram isoladamente no campo da linguagem. Nas décadas de 1980 e 1990, tais influências foram recombinadas com outras originadas de diversas possibilidades interdisciplinares: da Sociolingüística (por exemplo, oriundos da tradição laboviana com intensa intertextualidade com a obra de autores como Bourdieu, Snyders e outros), como se pode ver em Soares (1989); da Análise do Discurso francesa e da Teoria da Enunciação de M. Bakhtin, que se podem ver em Geraldi (1997), Smolka (2003), Kramer (2001), Kleiman (1995), Abaurre (1991), Rojo (1998), Orlandi (1996) e em muitos outros. Talvez as dificuldades que os autores do Relatório apontam nos PCNs, e que realmente se podem detectar, advenham de uma tentativa de elaboração de sínteses teóricas abrangentes, com a intenção de evitar um modelo restritivo, que se centre apenas em um dos aspectos do ensino.

Além desses entrecruzamentos teóricos, há também a emergência de novas pesquisas no campo da aquisição da linguagem oral, que abrem perspectivas importantes para a alfabetização e a leitura. Um exemplo é a produtiva aproximação entre Lingüística, Psicanálise e Educação, cujas concepções de linguagem, língua e escrita assumem um vínculo constitutivo com o conceito de inconsciente. Um exemplo promissor são os trabalhos de Lemos (1992), Castro (1996), Lier-de-Vito (1998), Bosco (2002), Lemos (2002) – para essa perspectiva, por exemplo, as idéias de consciência fonológica ou mesmo a concepção de sujeito autocentrado vistas no relatório não ficariam sem uma densa crítica.

Se um consenso científico é necessário para que os educadores e gestores possam contar com sugestões de programas e currículos em um esforço coletivo de enfrentar as complexas demandas brasileiras, é fundamental que ele se dê a partir de uma articulação mais ampla que considere o movimento dialético típico do conhecimento científico contemporâneo que, salvo raras exceções, cultua a inter-disciplinaridade, respeita a heterogeneidade e a complexidade dos processos e das diversidades culturais. E é importante que a busca desse consenso esteja inserida num plano amplo que faça da alfabetização e do ensino da leitura no Brasil prioridades absolutas.

O grupo de especialistas escolhido pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara representa apenas uma das perspectivas possíveis do campo da leitura e da alfabetização. Nesse sentido, a recente crítica feita por Ouzoulias (2006) sobre o perigo da importação das pesquisas anglo-saxônicas para a França pode, com muito mais razão, ser aplicada ao Brasil: país complexo, cuja língua, o português do Brasil, possui um sistema fonético-fonológico muito diferente do inglês — se o aluno inglês ou americano experimenta imensas dificuldades em correlacionar grafemas a fonemas (ou fones) e, por isso, necessita de treinos sistemáticos em fônica, o aluno brasileiro parece se dar bem com atividades que colocam a dinâmica fonético-fonológica da língua em jogo a partir do uso de textos integrais de sua cultura, sobretudo aqueles gêneros que parecem ter sido especialmente preparados pela cultura para que a criança possa brincar com a desmontagem de palavras. As fórmulas de escolha, o jogo do revestrés, a língua do Pê, os trava-línguas, as mnemonias e tantos outros gêneros lúdicos presentes na diversidade cultural brasileira já trazem em si os elementos essenciais de uma escrita.

Os textos de origem oral permitem estratégias excelentes de alfabetização e de engajamento subjetivo no universo da leitura. É possível, por exemplo, classificar os trava-línguas, as fórmulas de escolha, as adivinhas, as mnemonias de acordo com o tipo de dificuldade que o processo de alfabetização vai enfrentar no momento. Se quisermos lidar com encontros consonantais, poderemos brincar oralmente com o trava-língua – por exemplo: "troque o trinco e traga o troco" –, pronunciando-o de dois jeitos: com o encontro consonantal ou reduzida à sílaba canônica: "toque o tinco e taga o toco" (as crianças reconhecem aí, na falta do /r/, o outro que ainda tem dificuldade de fala e acaba percebendo o encontro consonantal). Ao fazer o percurso de passagem para a escrita, seguindo roteiro semelhante ao dado acima, vamos ter um pareamento que evidencia a forma e a função do encontro consonantal.

Há muitos outros jogos que permitem associar movimentos corporais ao descolamento de unidades vocabulares ou silábicas (alguns exemplos: pular corda dizendo textos, atirar a bola na parede dizendo um texto, fórmulas de escolha, alguns brincos e mnemonias) – nesse ponto, lingüística e a cinesiologia se associam e, em geral, favorecem muito a entrada no jogo dos sujeitos que apresentam dificuldades analíticas em relação à segmentação.

Insistimos que na oralidade já há os elementos fundamentais de uma escrita (Belintane, 2005), ou seja, que a estética que permite a memorização e o jogo são elementos fundamentais não apenas para que o aluno aceite o jogo de "cola-descola" da intermitência silábica e fonemática, mas também para que coloque em jogo uma subjetividade que se compraza em descobrir um espaço de movimento entre textos orais e entre estes e os textos escritos e, de uma forma mais geral, entre os elementos segmentáveis e analisáveis da fala e da escrita, sejam eles fones, silabas, grafemas, morfemas, frases, referências intra e intertextuais etc. Em Belintane (2006), mostramos o efeito da adivinha na memória, discutimos a idéia de uma "subjetividade de entre-textos", que analisa forma e sentido ao mesmo tempo.

Nesse contexto de ensino, é possível e recomendável que se utilizem as concepções de Emília Ferreiro e atividades com famílias silábicas (com atividades orais, cópia, ditado etc.). Note que partindo do oral, dos gêneros orais e da leitura, as fases de Ferreiro não estarão centradas apenas na escrita e as atividades com famílias silábicas partirão de contextos mais complexos (textos de origem oral ou mesmo da pesquisa em livros). Frisemos bem: a atividade com família silábica é muito importante, mas somente deve ser posta em jogo seletivamente a partir de diagnósticos precisos e de preferência individualizados. Só se abordam as famílias silábicas que de fato constituem dificuldades — somos radicalmente contra a exaustão do contínuo das famílias silábicas como forma de contemplar todos os alunos e todas as dificuldades. Nivelar a classe dessa maneira é assumir uma metodologia de baixo custo, mas de alto risco.

Nas situações heterogêneas de ensino, não há outra solução. É necessário trabalhar a partir de diagnósticos precisos, com mais de um material didático10 e até mesmo com dois professores simultaneamente — um dos problemas atuais nessas salas é que o professor não consegue dar conta dos diversos níveis que tem diante de si.

Voltando à polêmica dos métodos, cabe aqui ainda uma pergunta e um comentário: se os próprios especialistas defensores do método fônico (Adams et al., 2006) admitem que apenas 25% dos alunos de classe-média e um "número bem maior" daqueles "menos ricos em atividades de letramento" não dispõem de consciência fonológica nas séries iniciais (p. 19), por que assumir um método que generaliza para qualquer sujeito a instrução direta (aqui entendida como treino grafofônico)?

Não temos dúvida de que a língua permite diferentes subjetividades, algumas mais propensas ao jogo desejante da intermitência – que permite, por exemplo, não só a desmontagem das palavras, mas sobretudo um ir-e-vir entre textos e palavras, que pode favorecer a leitura fluente e significativa; e outras que assumem um modo mais pregnante de lida com a própria fala – que não aceita o ato do corte, a segmentação das palavras. Em nossos estudos, temos identificado na história desses sujeitos uma carência de jogos lúdicos no período de aquisição da fala (Belintane, 2006b) e nos recusamos a classificá-los simplesmente como disléxicos.

Em nossas pesquisas e cursos de formação de professores, reunimos condições de fornecer aos professores materiais didáticos contextualizados, elaborados a partir de suas próprias demandas, embora sejamos sempre obrigados a reconhecer que tudo se afunila em dois gargalos: redes escolares que não fornecem condições de trabalho para que a equipe possa pôr no centro uma prioridade (no caso a alfabetização e o ensino de leitura em situações heterogêneas de ensino); professores que não dispõem de uma formação inicial necessária à atividade que exercem – uma olhada nos currículos de pedagogia é bastante reveladora: no caso da Universidade de São Paulo, que é quase sempre vista como modelar, há apenas um semestre dedicado ao estudo da alfabetização e uma disciplina optativa intitulada "Metodologia do Ensino de Lingüística". A formação do professor, tanto a inicial como a contínua, é um dos nós principais dessa intricada rede de problemas.

Não é por acaso que o amplo contexto do ensino da leitura acaba sendo tratado como contraposição entre métodos de alfabetização e que alguns políticos aceitam a polarização e acabam assumindo este ou aquele método como forma de fugir da complexidade e de ter em mãos uma solução rápida e barata para um problema antigo, que deveria ser tratado como prioridade, de forma sistêmica e não pontual.

Educ. Pesqui. vol.32 no.2 São Paulo May/Aug. 2006

Comentários de Lucilene.

O escopo do texto aponta uma preocupação dos pesquisadores da necessidade de se avançar no processo da leitura e escrita, uma vez que os mesmo não se obstem em demandar e se envolver no foco educativo, mesmo sabendo que os problemas ocasionados tem causado controvérsias no panorama literário estreitando cada vez mais os fatores presentes no mundo da leitura. Nota-se também, que esta organização vem dando conta de novos posicionamento da leitura e da escrita para o bem salutar de novas perspectivas no mundo atual.

Superação do B+A=BA

As dimensões do aprender a ler e a escrever

Durante muito tempo a alfabetização foi entendida como mera sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um código fundado na relação entre fonemas e grafemas. Em uma sociedade constituída em grande parte por analfabetos e marcada por reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonológica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/interpretar palavras (ou frases curtas) parecia ser suficiente para diferenciar o alfabetizado do analfabeto.

Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da leitura. Seguindo a mesma trajetória dos países desenvolvidos, o final do século XX impôs a praticamente todos os povos a exigência da língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas como verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania. Foi no contexto das grandes transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo “letramento” surgiu [ii] , ampliando o sentido do que tradicionalmente se conhecia por alfabetização (Soares, 2003).

Hoje, tão importante quanto conhecer o funcionamento do sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas, respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica. Assim, Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade (Tfouni, 1995, p. 20).

Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escolares de ensino da língua escrita e a dimensão social das várias manifestações escritas em cada comunidade, Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Cole, define o letramento como

... um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19)

Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabetização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapolando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do sistema de escrita:

Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).

Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o código (Soares, 1998). Por isso, aprender a ler e a escrever implica não apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las (ou de associá-las), mas a possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto cultural. Em função disso,

Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira [iii] nas diversas atividades pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva. (Leite, p. 25)

SilviaM.GasparianColello
FEUSP
silvia.colello@uol.com.br

Comentários de Lucilene.

Entretanto o indivíduo quando possa desse conhecimento, ele domina com mais facilidade o ato do ler e escrever, ou seja, percebe-se que esse conhecimento depende para introduzir, interpretar vários tipos de textos fortalecendo o mundo social da escrita.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A LEITURA COMO FONTE DE CRESCIMENTO

Vários autores, estudiosos do processo de aquisição da leitura e da escrita concordam que ele se inicia muito antes do que geralmente se imagina, quando a criança, antes mesmo de entrar na escola, começa a tomar contato com materiais escritos, em casa, na rua, ou em qualquer lugar onde se encontre.
Dentre esses pesquisadores, existe uma autora argentina, psicopedagoga chamada Emília Ferreiro que contribuiu bastante para o entendimento de como ocorre o processo de aprendizagem da linguagem escrita.

Segundo essa autora, a criança pensa sobre a escrita, formulando hipóteses sobre ela, como maneira de compreender o que significa. Essas hipóteses acontecem em todas as crianças, que vão evoluindo desde a fase Pré-silábica, na qual ainda não há intenção de representar através da escrita os aspectos sonoros da fala, até chegar ao padrão alfabético, que é aquele no qual a criança associa sons falados a letras escritas.

Dessa forma, quando a criança faz traços contínuos no papel e, atribui-lhes significado, ( como quando escreve “^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ e lê "O menino caiu” ) ela está escrevendo, ou seja, está fazendo uma atividade investigativa sobre a escrita que será importante para que ela possa evoluir gradativamente . em sua aprendizagem: por isso, essas tentativas da criança não devem ser motivos de chacota, ao contrário, devem ser incentivadas e reforçadas

Durante a aprendizagem da escrita, a criança passa por várias fases até chegar à hipótese Alfabética, na qual realiza uma análise sonora da palavra que vai escrever, fazendo corresponder a cada som um caracter escrito. A produção escrita da criança torna-se legível para o adulto, embora não haja ainda o domínio das regras de ortografia, o que ocorre posteriormente, de forma gradativa e devendo ser estimulado através da apresentação de materiais escritos na escola e também na família, já que trata-se de uma aquisição cultural, ou seja, que não ocorre apenas internamente na criança..

Fonte: www.artigos.com)

Comentários de Lucilene.

A leitura já desperta no indivíduo desde muito cedo, pois a criança ao manter contatos com as pessoas elas começam a ter noção do que passa ao seu redor que aos pouco vai desenvolvendo de forma coerente ao relacionar com o adulto.

A leitura,no sentido amplo é entendida por Freire, não ocorre somente na escola, mas está presente na vida de todos os indivíduos desde o nascimento.